segunda-feira, 23 de maio de 2011

A experiência pesa

Os velhinhos estão arrebentando!

Está acontecendo nesse momento nas finais da NBA algo que sempre acontece, mas, de uma certa forma, acaba sempre nos surpreendendo. Vemos isso o tempo todo, seja no basquete, futebol, ou qualquer outro esporte, ou mesmo em outras áreas de atuação: temos a tendência de achar que a renovação vai chegar um pouco antes do que realmente acontece.

Talvez seja um reflexo de uma vontade de mudança da nossa sociedade; ou ao contrário, talvez seja um medo de que um dia a mudança venha, então já nos antecipamos a ela, para acabar com a antecipação; talvez seja uma vontade de dizer que foi o primeiro a previr o novo chegando; talvez um medo de ser considerado preso ao passado, ao que já era; ou talvez seja só conversa filosófica num blog de NBA, mas a questão é que vejo sempre isso (e caio na mesma armadilha). A gente vê um time experiente, rodado, talentoso e com vários jogadores além dos 30 anos enfrentando um time jovem, com bastante talento e um futuro promissor; se o nível de talento e as campanhas se equivalem, nós temos a tendência a achar que o time mais jovem vai vencer, que chegou a hora de "passar o bastão".

Claro que essa hora sempre chega; em tudo na vida, não só no basquete. Mas a nossa visão imediatista atual tem feito com que muitos de nós façam esse julgamento de forma apressada, e então acabamos achando que os "velhinhos já eram", enquanto eles ainda têm bastante lenha pra queimar. E acabamos endeusando os jovens, como novos Jordans e Pelés muito antes deles estarem em condições de reinarem absolutos no esporte.

O Dirk está fazendo uma pós-temporada espetacular

O que temos visto (mais no oeste, por razões óbvias) é justamente algo parecido nessas finais de conferência. No oeste, o Dallas domina a série, liderando por 3x1, e com uma partida em casa agora para fechar a série. Na pior das hipóteses, haverá um jogo 7, também em Dallas. Não consigo imaginar o Thunder conseguindo ganhar 3 jogos seguidos, sendo 2 fora, contra a equipe do Dallas. Considero os Mavericks (média de idade dos 9 jogadores normalmente utilizados: 31,6 anos) um time melhor preparado do que o Thunder (média de idade dos 8 normalmente utilizados: 24 anos).

Acredito que os talentos se equivalem: o Thunder não é somento Durant e Westbrook. Harden e Ibaka tem jogado muito bem nesses playoffs. Ibaka teve 18 pontos, 10 rebotes e 5 tocos na derrota de hoje por 112 x 105 em casa, na prorrogação. O destaque do jogo foi (adivinhem...) o alemão Dirk Nowitzki. Na partida passada, também vitória do Dallas, o Dirk não se destacou tanto; mas no jogo de hoje, ele foi o líder do time na incrível reação no finzinho do jogo, terminando a partida com 40 pontos. Faltando 5 minutos para o fim da partida, Oklahoma vencia por 15 pontos, e viu seu adversário voltar ao jogo e forçar a prorrogação. Jason Kidd também teve uma excelente partida (17 pontos, 7 assistências, 5 rebotes, 4 roubos de bola e apenas 3 turnovers), mostrando que seus 38 anos não estão pesando como se imaginaria (hoje ele jogou 41 minutos). Se eu fosse o Jose Juan Barea, trataria de aproveitar cada momento jogando, treinando e convivendo com o Kidd, o cara é uma fera! E aposto que o bom desempenho do porto-riquenho, caçula do time, vem um pouco do aprendizado com o Jason Kidd (além do seu talento e dedicação, claro).

Kidd ainda é um armador fora-de-série

E pra virar um jogo de 15 pontos nos minutos finais, fora de casa, num jogo importante de final de conferência, tem que ter estado lá, tem que ter vivência, tem que ter perdido muitas e ganho outras... senão, não dá (a não ser que você seja um Jordan, ou Bill Russell, ou um Jabbar... e o Durant não é nada disso, ainda). Além de serem jogadores experientes, alguns já viveram a sensação, a alegria, o medo, etc. de estar numa final de NBA, de terem disputado muitos e muitos playoffs... isso tudo influencia, e muito.

Do outro lado, na conferência leste, a situação se repete um pouco. É claro que temos 2 times jovens, mas o Miami é um pouquinho mais experiente que Chicago. As médias de idade dos elencos que mais tem atuado; Miami = 29,1 anos; Chicago = 26,7.  Nâo é uma diferença tão grande quanto na outra conferência, mas se você acrescentar que Miami tem um jogador que já foi campeão, outro que foi vice e é o jogador mais badalado da NBA nos últimos 3 ou 4 anos, você vê quem tem mais vivência.

Wade, 29 anos, fazendo uma dupla excelente com Lebron

E, nesse momento, o Miami tem a vantagem na série, liderando por 2x1, com o próximo jogo em casa. Se conseguirem uma vitória em Miami, estarão com um pé e meio na final da NBA. Será um jogo de vida ou morte para Chicago, que vai ter de descobrir como driblar a forte defesa do Heat. E saber que, na  difícil hipótese de conseguir parar Lebron James e Dwayne Wade, ainda pode sobrar um Chris Bosh, como no último jogo.

Bosh foi destaque do Heat no jogo 3

É claro que nada é preto no branco. Não quero dizer aqui que o time mais experiente vá ganhar sempre. Como disse no início do post, há um momento que o novo supera o anterior (nos 2 últimos anos o cestinha da NBA é um jogador bem jovem, o Kevin Durant). O que resta é imaginar quando esse momento virá. Muita gente acha triste ver jogadores do calibre de um Shaquille O'Neal pulando de time em time, numa idade em que claramente não tem condições de ser nem a primeira opção do banco. Mas, ao mesmo tempo, fica a questão: a vida é do cara, se tem times dispostos a contratá-lo, e ele está feliz com a situação, que mal tem?


Os últimos 4 campeões eram times veteranos: os 2 títulos dos Lakers, o do Boston e o último dos Spurs em 2007. O mesmo se repetirá em 2011, ou seja, os Mavericks finalmente conquistarão seu primeiro título na NBA? Obviamente não temos como saber, mas eu diria que é um forte concorrente, seja contra Chicago ou Miami. Aliás, não seria bem engraçado termos uma reedição da final de 2006, com Dirk sedento de vigança pra cima de Wade? Prato cheio para nós, amantes da NBA, que veremos se esse será um ano da nova ou da velha guarda.

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